Canais de educação no YouTube lutam em setor saturado


Ao pesquisar o termo “biologia” no YouTube, o primeiro canal que aparece no site de vídeos é o Biologia Total, do professor Paulo Jubilut, com mais de 700 mil inscritos. Duas páginas e muitos vídeos sobre membrana plasmática depois, está o Bioexplica, do Professor Kennedy Ramos, com apenas 17 mil seguidores. Kennedy, que iniciou as atividades no seu canal há cerca de um ano, é prova do atual cenário enfrentado pelos youtubers de educação: está cada vez mais difícil se destacar no meio da multidão de educadores dedicados a ensinar por meio do maior site de vídeos do mundo. 

“Não é fácil conseguir seguidores”, lamenta Ramos. “Foi muito mais fácil para quem começou no inicio, quando o aluno digitava ‘biologia’ e apareciam pouquíssimas opções para assistir. Agora, é fácil achar material sobre qualquer tema pesquisado.” 

A percepção do professor faz sentido. Enquanto seu vídeo sobre meiose — processo de divisão celular — possui pouco mais de 5,5 mil visualizações, por exemplo, o do professor Jubilut, tem 1,1 milhão de views, aparecendo no topo das buscas.

"Quando entrei no YouTube, não tinha mais ninguém”, lembra Jubilut. Líder nas buscas de educação, seu canal existe há quatro anos. “Antes, não precisava ficar pensando em conteúdos diferenciados. Hoje, fazer alguma coisa diferente é obrigação para conseguir se destacar.”

Quando Jubilut entrou no YouTube, a plataforma reconhecia apenas 20 canais de educação. Hoje, são mais de 184, de acordo com o Google Brasil. Um número aparentemente pequeno, mas revela um currículo mal distribuído. “Existem muitos canais da área de exatas”, diz Flavia Simon, diretora geral de marketing do Google no País. “Precisamos de mais canais de educação infantil e da área de humanas.”

Teatro. Para se destacar nesse universo, é preciso, pensar em técnicas e novos formatos para conseguir chamar a atenção dos alunos que buscam didática e boa metodologia. O canal Se Liga Nessa História, por exemplo, nasceu em 2014, quando o boom de vídeos de educação no YouTube já tinha passado. A saída para se destacar foi abusar da tecnologia e criatividade: em vez de aulas engessadas, o canal usa efeitos sonoros, gráficos e criam brincadeiras com o público.

“Temos um trabalho com roteiro, arte cênica e edição”, conta o professor Walter Solla, do Se Liga Nessa História. “No vídeo de Grécia Antiga, por exemplo, eu me fantasiei de Zeus e o produtor Ary Neto de espartano.”

O esforço deu certo: um ano após a criação do canal, Walter e Ary começaram a ter até 500 novos inscritos por dia – no início, eram apenas 50. “Muita gente quer aprender com liberdade de horário, mas sem abrir mão da qualidade”, acredita o professor. 

Youtubers também ressaltam que manter uma periodicidade na publicação dos vídeos facilita a adaptação de alunos, que se sentem mais confortáveis e seguros quando sabem que terão conteúdos quando precisarem.

Potência. O YouTube, em 2013, já sabia do potencial dos canais de educação. Foi nesta época que a empresa criou o YouTube Edu, plataforma que reúne conteúdos verificados por professores e organizados por temas e disciplinas. Três anos depois, o sistema sofre críticas por não ter um sistema de “filtro de qualidade”. “Ele coloca todo mundo no mesmo balaio”, reclama um youtuber que pediu para não ser identificado. “O site não destaca vídeos e não ajuda ninguém a estudar. É uma bagunça.”

“A ideia nunca foi selecionar os melhores e colocar apenas alguns conteúdos”, diz o dono do canal MatemáticaRio e embaixador do YouTube Edu, Rafael Procópio. “Nós não analisamos o modo como você dá aula, analisamos apenas se o conteúdo está correto e habilitado para o YouTube Edu.”

Em defesa, a empresa diz prezar pela quantidade e diversidade do conteúdo. “Não queremos limitar conteúdo. Queremos mais conteúdo e com mais qualidade”, diz Flavia, do Google. Para o diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, um dos trunfos do YouTube Edu é justamente democratizar o ensino – e sua transmissão. “Alguém no interior do Amazonas, sem estrutura, consegue ter a mesma aula que outra pessoa que vive nos grandes centros.” 

Esta é a principal razão para youtubers seguirem produzindo. “O que me continuarem com seus vídeos motiva é saber que contribuo com a educação brasileira”, diz Kennedy, do Bioexplica. 

Isso para não falar, claro, nos ganhos que os grandes canais têm com visualizações. Paulo Jubilut, por exemplo, diz faturar entre R$ 5 mil e R$ 7 mil por mês com o Biologia Total. “É lógico que varia. Em alguns meses, não tiro quase nada”, afirma. “Mas é muito melhor (que estar em sala de aula). Cursinho, nunca mais”, diz.

Fonte: Estadão

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